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Foto do escritorJornada de Coaching

As oportunidades que a Covid me trouxe.


Aprendi com um amigo filósofo que tudo na vida apresenta vários lados, vários aspectos.

Geralmente vemos aquele que já faz parte ou que está mais próximo do nosso quotidiano, da cultura que temos ou daquilo em que colocamos atenção. E é justamente aí que se encontra a dificuldade: como o cérebro funciona sob nosso comando, como se fosse um computador, ele geralmente identifica aquilo que “casa” com a “pesquisa” que estamos fazendo, tal qual a função “busca” em um sistema computacional. É por isso que existem as chamadas “coincidências” como, por exemplo, quando pensamos em comprar determinada marca de carro e, como em um passe de mágica, passamos a ver nas ruas aquela marca específica como se mais e mais pessoas tivessem também passado a comprar aquele carro no mesmo momento que nós. Para conseguir ver além daquilo que já faz parte de nosso repertório, é preciso inserir mais dados nessa busca, ampliar o horizonte de pesquisa, o que nem sempre é fácil. Assim, identificar os vários aspectos de um mesmo objeto ou tema torna-se, então, um exercício cognitivo dos mais sofisticados e que nos traz inúmeros benefícios. Um dos principais é se dar conta de que mesmo nas situações complicadas existe um lado positivo.

Esse é justamente um dos trabalhos que tenho feito comigo mesma durante essa pandemia: identificar, no meio de tanta dificuldade e tristeza do momento, as coisas positivas que essa situação está trazendo. Aqui vão algumas:


  • Acesso online ao conhecimento

Muitas pessoas e instituições que antes só forneciam aulas, conferências, debates e outros formatos de transmissão de conhecimentos, agora o fazem através de diferentes mídias online. Essa, para mim, é a maior de todas as oportunidades que me foi dada! Avante!


  • Maior aceitação do coaching online

Antes da pandemia, muitas pessoas tinham dúvidas sobre a eficácia das reuniões de coaching por meio digital, acreditando que elas jamais teriam o mesmo impacto que as reuniões presenciais. Durante os períodos de confinamento, várias pessoas que nunca haviam feito um percurso online viram que nada se perde do poder transformacional do coaching, restando apenas uma preferência pessoal entre se fazer o percurso fisicamente presencial ou através de um equipamento. Assim, mais e mais pessoas estão tendo acesso a processos de coaching!


  • Contato com amigos distantes

É claro que, desde que a internet se tornou algo comum em milhares de lares, entrar em contato com pessoas de diferentes cantos do planeta não é mais coisa de outro mundo. No entanto, não sei se isso acontece com você também: o dia a dia corrido acaba me afastando daqueles com os quais não tenho, no momento, objetivos em comum. Com o confinamento, fui recordando várias pessoas queridas, familiares, amigos de longa data e até relações profissionais mais ou menos distantes. Os contatos feitos têm sido muito bacanas: revemos momentos bonitos, nos atualizamos sobre a vida de cada um, com todas as alegrias e as tristezas que povoaram os caminhos de cada pessoa. É muito interessante notar como que, com algumas pessoas, parece que os anos de afastamento se dissipam como poeira fina e, quando ela sai, resta novamente um laço que você sente que ficará ainda por muitos e muitos anos.


  • Triagem, reciclagem e menos lixo

Com o fechamento do comércio chamado de “não-essencial” – prática usada durante diferentes momentos dos confinamentos -, me veio uma super vontade de fazer uma bela triagem nas coisas que tenho. É como se algo quisesse me mostrar que dá para viver com menos e que isso traz uma leveza enorme. Eu, que já vinha adotando nos últimos 5 anos um estilo mais econômico de ser (o que para mim se traduziu em comprar menos roupas e bijoux, fazer eu mesma a faxina na minha casa e cultivar em vasinhos as ervas usadas na culinária), passei a olhar para as coisas e me perguntar: “existe algum uso diferente para isso?” Com essa pergunta em mente, fui redescobrindo minhas roupas e combinações diferentes, consertei várias coisas que estavam meio fora de ordem (roupas e objetos), doei itens que não eram mais úteis e passei a fazer compras a granel de vários produtos – farinha, açúcar, óleo, arroz, sabonete para mãos etc. – com o objetivo de diminuir o lixo reciclável (as embalagens). Confesso que estou gostando muito desse novo jeito de olhar para os objetos. Está me dando a sensação de que estou mesmo contribuindo, ainda que timidamente, para o uso racional dos recursos do planeta. Comecei também a plantar mais na minha varanda, incluindo espinafre, rúcula, cenoura, tomate e rabanete. Ah, quanta alegria a cada vez que vou lá fora colher a própria salada!!!! Recomendo!!!!


  • A descoberta de belezas próximas

Em vários momentos o confinamento significou não sair do país ou não poder ir além do que 10km de minha casa. Com isso, começamos a buscar na internet lugares próximos e cidades vizinhas que não conhecíamos. Quanta bela surpresa! Descobrimos locais históricos, trilhas, mercados com produtos locais de alta qualidade, cânions lindíssimos, lagos e outras paisagens que provavelmente não teríamos visto se as restrições não estivessem em vigor.


  • A solidariedade

Os jornais na França começaram a mostrar as inúmeras iniciativas solidárias que foram aparecendo. É muito bonito ver como as pessoas são capazes de se mobilizar para ajudar os outros. E não é preciso ir longe para fazer isso. Eu mesma, apesar de já ser coach voluntária em uma associação, me integrei a duas equipes de coaches que atendiam voluntariamente a profissionais de saúde e a empresários em situação de stress elevado. Ao tomar conta do outro, algo maior começa a tomar conta de você também, e você se sente muito melhor. Foi o que aconteceu comigo.


  • O silêncio

Aqui na França (e na Europa, como um todo) é bastante comum ter janelas com vidro duplo, com o objetivo de melhorar o conforto térmico contra o frio. Isso tem uma ação direta também contra o barulho exterior e, como conclusão, a quietude reina dentro de casa. No entanto, com a pandemia, toda a cidade – moro em Lyon, na França – parece que se aquietou. Mesmo fora dos horários do toque de recolher, as ruas estavam mais vazias e mais silenciosas. Tomar um café na varanda ouvindo apenas os pássaros, em plena megalópole, passou a ser um momento de puro prazer. Às vezes ouvimos os sinos da igreja do bairro, às vezes o trem que passa perto, às vezes o choro de um bebê na vizinhança. A descoberta desses sons, que antes passavam despercebidos, aguça os sentidos de outra forma. Até os meus pensamentos ficam muito mais claros na presença do silêncio. E quando ele vem, absoluto, forte, extremamente presente, ele passa a ser muito bem-vindo e muito bonito. É difícil de expressar esse sentimento em palavras!


Enfim, essas são algumas das belas oportunidades que a Covid me trouxe. É claro que elas não apagam toda a dor e o sofrimento que um cenário de tal impacto traz. Mas esse exercício de buscar outros aspectos da pandemia me fez trabalhar no reconhecimento e na gratidão também. A vida nunca é feita de extremos. O caminho do meio, do equilíbrio, é sempre o que mais nos permite avançar. E para você? Quais foram as oportunidades que a Covid lhe trouxe?


Stela d'Escragnolle Klein

Artigo originalmente escrito para a plataforma Brasileiras pelo Mundo.


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